O primeiro fim
Na segunda metade da década de 1960, a Excelsior começava a ver seus problemas com a censura agravados. Pior ainda, afundada em dívidas e impostos atrasados, ela viu, impotente, seus astros pularem para as emissoras rivais. E, como se isso já não fosse o suficiente, dois incêndios nas instalações da emissora tornaram ainda pior uma situação que já beirava o caos.
Paralelamente, o programa de Wilton Franco começava também a dar sinais de desgaste - ao menos na audiência. Juntando-se os dois lados, não houve outra solução a não ser tirar o programa do ar. O anúncio veio com tristeza para todo o grupo. "Entrou um filme no lugar", relembra Wanderley Cardoso.
"A Excelsior fechou, e ficou todo mundo 'na mão'. Eu, o Renato, todo mundo", conta Dedé. De portas fechadas, cada um buscou sua melhor maneira de garantir o sustento.
A "reestruturação forçada" acabou levando a mais uma formação, desta vez direta, da dupla Dedé/Didi. E, agora, seria na TV Record, nos bancos da famosa A Praça da Alegria, sob o comando do genial Manoel de Nobrega (1913-1976). Roberto Guilherme, o futuro Sargento Pincel, também foi junto, conforme relembra: "Depois disso, a Record contratou eu e o Renato (o burro vem na frente) para formarmos uma dupla na Praça da Alegria com o sr. Manoel de Nobrega". Vale lembrar, para os mais jovens, que Manoel de Nobrega é pai de Carlos Alberto da Nobrega, apresentador de A Praça é Nossa. Carlos Alberto, por sinal, por muitos anos colaborou na redação dos programas protagonizados por Renato Aragao, como veremos.
A dupla inicial de A Praça da Alegria foi, na verdade, composta por Renato Aragão e Roberto Guilherme. A entrada de Dedé ocorreu pouco tempo depois. Carlos Alberto soube que o comediante estava parado e resolveu chama-lo para a "Praça" também. "Chamei o Dedé, para ele faturar uma graninha", relembra o apresentador do banco mais famoso da televisão. Instalou-se o humor circense no programa famoso, e o sucesso veio rápido.
Carlos Alberto havia conhecido Renato Aragão ainda nos tempos da TV Excelsior. "Eu achava muito engraçado o Aragão no Adoráveis Trapalhões." Os dois se viram pela primeira vez no aeroporto. O filho de Manoel da Nobrega já estava na Record. Anos depois, quando a Excelsior chegou ao fim, surgiu a oportunidade de levar Didi para a praça.
"Em pouco tempo nós eramos a principal atração do programa, que tinha um gênero mais calmo", segundo Roberto Guilherme. Calmo, certamente. Se levarmos em conta o estilo de humor de Aragão, Dedé e Guilherme, o contraste foi ainda maior. O trio não poupava saltos e piruetas no palco.
Renato Aragão nunca trabalhou em circo, como já vimos. O papel de comediante dos picadeiros coube, então, prioritariamente, a Dedé: "Vim de uma família que fazia desde trapézios e palhaçadas até o 'globo da morte'". Quando os dois se juntaram, agiam como artistas de circo nas mesmas condições.
A dupla já tinha em mente ter um programa próprio. Claro, o espaço em A Praça da Alegria era bom e dava uma boa, audiência e visibilidade, mas ainda era pouco - paralelamente a TV, Didi e Dedé já armavam suas confusões no cinema, em filmes como A Ilha dos Paqueras ou Ali Babá e os 40 Ladrões.
Devido ao próprio "perfil tranqüilo" do programa da praça, conforme Roberto Guilherme nos revelou, não foi difícil imaginar a reação de Dedé quando Paulinho Machado, um dos diretores da Record, chamou os dois, Renato e Dedé, para uma conversa em sua sala. "Estamos ferrados. Ele vai nos mandar embora", dizia aos colegas o galã trapalhão. Sua maior preocupação era agradar aos donos da Record.
Dedé não poderia estar mais errado ("aguarde e confie", como diria Renato...).
Luis Joly e Paulo Franco