Breve introdução ao mundo do humor na TV

 

A televisão brasileira foi uma das primeiras criadas em todo o mundo. Tecnicamente, a quinta, atrás apenas da Inglaterra (1936), dos Estados Unidos (1939), Franca (1947) e México (1/9/1950). Alemanha e União Soviética tiveram a TV antes, mas interromperam suas transmissões no período da Segunda Guerra Mundial. Se não fomos o primeiro país na America Latina, fomos na America do Sul, um ano a frente da Argentina (1951).

Lógico que as dificuldades eram incalculáveis no tempo em que Assis Chateaubriand comprou 30 toneladas de equipamentos do mundo todo para montar sua emissora. Montagem, inclusive, feita as escondidas, pois ele queria inaugurar a TV antes de México e Cuba. Perdemos para os mexicanos por apenas 18 dias, mas vencemos sem problemas os cubanos.

A primeira transmissão oficial no Brasil aconteceu em 18 de setembro de 1950. Mas a data que mais nos interessa ocorreu dois dias depois, em 20 de setembro. Naquela quarta-feira, ia ao ar o primeiro programa brasileiro voltado ao humor. Rancho Alegre era uma adaptação de um sucesso do radio, e trazia o comediante Mazzaropi (1912-1981) as telas monocromáticas da época. O programa durou somente alguns anos, mas abriu as portas para o gênero no país.

Luis Joly e Paulo Franco

Mazzaropi, primeiro humorista na TV Brasileira

 

Em 1960 foi descarregado no porto do Mucuripe o material da torre da TV Ceará Canal 2, obra pioneira do grupo Diários Associados, comandado por Assis Chateaubriand. Uma noticia veiculada pelo jornal Correio do Ceará, pertencente ao mesmo grupo empresarial, informava que o material era procedente da Inglaterra e pesava 30 toneladas. Adiantava que a torre seria instalada sobre uma base de 90 metros de altura, que juntamente com a antena de 18 metros, perfazia um total de 108 metros de altura.

   

Logotipo da TV Ceará

 

Fachada da TV Ceará

 

A TV Ceará entrou no ar em 26 de novembro de 1960, época em que Fortaleza tinha cerca de 500 mil habitantes e apenas 200 televisores. Foi instalada no bairro Estância Castelo (atual Dionísio Torres), no local onde hoje funciona a holding do Grupo Edson Queiroz na Avenida Antonio Sales.

Foi a primeira emissora de televisão do estado do Ceará, e contou com diversos nomes como Emiliano Queiroz, Renato Didi Aragão, Ayla Maria, Augusto Borges, Paulo Limaverde, B. de Paiva, João Ramos, Wilson Machado, Guilherme Neto, Ary Sherlock, Hiramisa Serra, Karla Peixoto, Assis Santos e muitos outros.

Era famosa a imagem do indiozinho bochechudo, que chegava a ficar horas no ar enquanto arrumavam os estúdios para apresentar o próximo programa. Não existiam na época nem o video-tape nem as garotas propagandas para completar o tempo da transmissão, era tudo ao vivo e na hora.

Tinha, também, programas como “7 Dias em Destaque”, o qual conferia jangadinhas para as personalidades que se destacavam na semana; “Comédia da Cidade” e “Vídeo Alegre”, com o bom humor do Renato Aragão - Américo Picanço foi um dos seus primeiros pares -, assim como o “Aí Vem o Circo” e “Risos e Melodias”.

Américo Picanço, o primeiro parceiro de Renato Aragão na TV.

 

O 'Video Alegre', lembra o jornalista Siqueira, era o humorístico que Renato fazia nas noites de quinta feira, no canal 2. A trupe dos 'trapalhões' da época era formada por Américo Picanço (ainda vivo), Rinauro Moreira e Antônio Mendes (já falecidos), e contou em alguns episódios com a participação da atriz Maria Luiza Moreira. Os cenários, segundo Tertuliano, seriam de Audifax Rios. Aldenir Castro era um dos câmeras. Américo Picanço, também atuou no Adoráveis trapalhões da Tupi.

Fontes:

https://gentedemidia.blogspot.com.br/2010/10/renato-aragao-humorista-ganha-especial_24.html e

https://fortalezanobre.blogspot.com.br/2010/03/tv-ceara-canal-2-pioneira.html

 

Renato Aragão em esquete na TV Ceará, no início dos anos 60. Foi na emissora cearense que Didi apareceu pela primeira vez na TV, no programa "Vídeo Alegre", no dia 30 de novembro de 1960

 

A TV Tupi, primeira emissora do país, não viveu muito tempo sozinha. Menos de dois meses após sua estreia, a TV Record já estava no ar. Sinal de que a concorrência seria grande. Dez anos depois, em 1960, já eram vinte emissoras de TV espalhadas pelas principais cidades brasileiras, que transmitiam seus sinais para quase 2 milhões de televisores.

E paramos em 1960 para falar do segundo grande momento na historia da televisão brasileira que tem relação direta com o assunto desta obra: em 7 de setembro desse ano, a TV Excelsior, ou, como os mais antigos gostam de dizer, "a Globo da época", iniciava suas operações. A Excelsior começou forte, e exerceu muita influência em seus dez anos de duração, ate o dramático fim, em 1970, quando os gastos superavam, de longe, os lucros.

Ficheiro:Excelsiorrio.JPG

Fachada da TV Excelsior

 

A emissora, em seu auge, ficou conhecida por inovar no sistema de redes de televisão. Em meio à programação, vale destacar alguns feitos: foi ela quem produziu a primeira telenovela com capítulos diários (2-5499, Ocupado) e, também, a novela com maior duração no Brasil (Redenção, de 16 de maio de 1966 a 2 de maio de 1968).

Em um dos estúdios da Vila Guilherme, onde ficava a Excelsior, começaria, no mesmo ano de estreia de Redenção (1966), um outro programa que nos interessa muito mais (com todo o respeito aos amantes de novelas).

E foi tudo graças ao iê-iê-iê.

Embora o humor na televisão tupiniquim já estivesse indo bem, ele passou a dar muito espaço a crescente onda da Jovem Guarda, representada pelos artistas que trouxeram um pouco do rock-n'-roll - devidamente misturado a hegemônica cultura brasileira -, criado na década anterior nos Estados Unidos e celebrado com os quatro rapazes de Liverpool. E foi, justamente, por um dos nomes mais famosos da Jovem Guarda que os Trapalhões nasceram.

Wanderley Cardoso, talvez o precursor do "Os Trapalhões"

 

Wanderley Cardoso, ou o bom rapaz, como ficou conhecido, fazia parte da turma da Jovem Guarda - além de um movimento cultural, também o nome de um programa. Em 22 de agosto do ano anterior (1965), o programa Jovem Guarda, exibido pela Rede Record, começava sua escalada ao sucesso, justamente por dar espaço ao mundo jovem, ate então excluído dos monitores televisivos.

As emissoras rivais buscavam uma forma de combater a alta audiência da Record com a sua jovem guarda - sim, as brigas por audiência já existam desde aqueles tempos. Assim, a direção da Excelsior negociou a contratação do cantor Wanderley Cardoso, integrante da turma do iê-iê-iê da Record.

Mas qual a relação de Wanderley Cardoso com o grupo humorístico mais famoso do Brasil? Tecnicamente, o cantor pode ser considerado a causa do nascimento de Os Trapalhões-mais que isso, ele foi o primeiro trapalhão. Mas, antes disso, precisamos falar de como Didi encontrou Dede. Ou vice-versa?

Luis Joly e Paulo Franco