Indo para a Excelsior

 

"A Excelsior era realmente desorganizada como emissora de televisão, mas ao mesmo tempo era extremamente poderosa e criativa. O seu grande fracasso foi à chegada da ditadura. Ela não foi vencida; foi destruída. Ela tinha o perigoso sentimento de liberdade."

(Fernando Barbosa Lima, diretor de jornalismo da TV Excelsior em 1962, em trecho do livro Gloria in Excelsior)

 

O encontro entre Didi e Dedé mostra sinais de uma forte parceria. Parceria que, inclusive, já parecia predestinada. Ao contrário do que muitos podem pensar, os apelidos de ambos surgiram em momentos distintos, mas pelos mesmos motivos. Dedé ganhou o seu por "culpa" do irmão, Dino Santana, que tinha dificuldades em dizer o nome do comediante - aliás, não o culpamos, já que "Manfried" não é exatamente um dos dez nomes mais comuns no Brasil. Já Renato recebeu o seu apelido ainda na TV Ceará, quando fazia esquetes em um quadro de humor. Os apelidos, que passariam décadas lado a lado, surgiram por serem de fácil pronúncia.

Fazendo sucesso na TV Tupi, a dupla passou a ser cogitada pela Excelsior, que, como explicamos no primeiro capítulo, buscava fazer frente ao ascendente programa Jovem Guarda,na Record. A Excelsior já possuía Wanderley Cardoso, ídolo do rock nacional. Mas era pouco, segundo Wilton Franco, encarregado de dirigir o programa estrelado pelo cantor — um humorístico. Lembrem-se, estávamos em 1966.

Wilton Franco (Diretor)

Wilton, considerado, hoje, um dos mestres da televisão e especialista em humor, mostrava-se apreensivo com a missão que tinha pela frente: conduzir um programa estrelado pelo ídolo teen Wanderley Cardoso. "Achei que uma pessoa sozinha não conseguiria levar um programa de uma hora, nem haveria repertório pra isso. Então, eu pensei em juntar a ele uma série de outros jovens bem diversificados."

A preocupação tornava-se ainda maior, já que o cantor, além de não ser um humorista, não possuía experiência com textos decorados em frente às câmeras. Portanto, Wilton foi atrás dos "jovens diversificados", que menciona acima, para acompanhar o bom rapaz na jornada.

Wanderley Cardozo (Cantor)

Entre os primeiros nomes, surgiu a possibilidade de contar com o comediante Costinha (1923-1995). Porém vale lembrar que, no meio da década de 1960, a censura brasileira estava com força total, e as piadas, muitas vezes, digamos, erotizadas do inesquecível Costinha poderiam não agradar aos seletos e rigorosos ouvidos do governo.

Primeira opção: vetada.

Na falta de Costinha, o primeiro nome que veio a mente de Wilton Franco foi de outra grande celebridade da época: Ted Boy Marino. "Ted Boy", na verdade, e a alcunha de Mario Marino, um lutador nascido na Itália, mas que vivia em Buenos Aires e chegou ao Brasil (ufa!) com 24 anos. Mario era famoso na Argentina como lutador, e foi a mesma fama que o trouxe ao Brasil.

Ted Boy Marino (Lutador)

Em 1966, Ted Boy Marino comandava o programa Telecatch, também da Excelsior. Na atração, que simulava lutas reais, ficou famoso o gênero da "luta livre" no Brasil - os embates, claro, eram combinados, mas, mesmo assim, atraíam a audiência como abelhas ao mel. "Sempre tivemos um retorno fantástico", conta o lutador, nascido originalmente na Calábria, Itália. Ate poucos anos atrás, as lutas livres ainda podiam ser vistas em emissoras como Gazeta (São Paulo) e CNT.

O programa comandado por Wilton Franco já contava com duas estrelas, mas sofreria com a falta de experiência de Wanderley em teatro e textos, com o complicado português de Ted Boy. Franco decidiu, então, convocar Ivo Jose Cury, ou, simplesmente, Ivon Cury (1928-1995). Mineiro (como Mauro, o interprete de Zacarias), Ivon já era um artista consagrado e talentoso na época em que foi chamado. "Precisava de um comediante mais maduro, por isso pensei no Ivon Cury", relembra o ex-diretor. Ivon fazia, na realidade, o papel do humorista-escada e filósofo do grupo. Além de ser mineiro, como Zacarias, havia uma segunda ligação com o trapalhão: Ivon também usava perucas, motivo pelo qual ficou famosa a frase "pelas perucas de Ivon Cury!".

Ivon Cury (Artista)

"Os Trapalhões nasceu em função do Wanderley Cardoso, que fazia muito sucesso com suas musicas", relembra Wilton Franco.

Porém, o elenco ainda sofreria mais adições antes de ir ao ar.

Luis Joly e Paulo Franco